Carrapato
Micuim |
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O chamado
micuim ou carrapato-pólvora é a larva do carrapato-estrela (Amblyomma
cajennense), espécie nativa do Brasil e muito comum nas regiões
Sudeste e Centro-Oeste. Na natureza, é encontrada em animais
silvestres, em especial, na anta e na capivara. Com a introdução
do cavalo pelos colonizadores, o carrapato-estrela achou um
hospedeiro ideal, com pouca imunidade à praga e com boa
tolerância às infestações. Não existe notícia de cavalo que
tenha morrido em decorrência de ataque do carrapato-estrela. Há
muitas outras espécies de carrapato (só no Brasil, são cerca de
55), como o carrapato-de-boi (Boophilus microplus) e o
encontrado nas orelhas dos eqüinos (Anocentor nitens), mas o
estrela é o que causa mais problemas ao ser humano.
O ciclo de vida do carrapato-estrela é de exatamente um ano. No
período das águas, de outubro a março, as fêmeas adultas
fecundadas caem ao chão e cada uma delas põe cerca de 7 mil ovos
que, ao eclodirem, darão origem aos micuins. É muito comum se
observarem nos pastos, entre abril e julho, verdadeiros bolos de
micuins sobre arbustos, à espera de um hospedeiro. Quando um
cavalo, um animal silvestre ou mesmo o homem esbarram no local,
as larvas aproveitam para se instalar. Depois de se alimentarem
de sangue, caem novamente ao solo e sofrem uma muda
transformando-se em ninfas.
Na fauna silvestre do Sudeste e do Centro-Oeste, as antas e as
capivaras são os animais preferidos pelo carrapato-estrela, cuja
forma larval é o micuim ou o carrapato-pólvora
Vermelhinhos
As ninfas são os chamados vermelhinhos, maiores e mais visíveis
que os micuins, e que também procuram um hospedeiro. Ocorrem de
julho a novembro e podem parasitar o ser humano. Com as ninfas,
acontece o mesmo que com os micuins, ou seja, após se
alimentarem do sangue do hospedeiro, caem ao chão e sofrem nova
muda, chegando finalmente à idade adulta, o que acontece entre
outubro e março. Os adultos, que são os carrapato-estrelas
propriamente ditos, podem viver até dois anos no solo sem se
alimentar, à espera do hospedeiro. Nessa fase, raramente
infestam o homem. Ao se fixarem no animal, alimentam-se e
realizam a cópula. Em seguida, as fêmeas caem ao chão para
desovar, concluindo assim o ciclo de vida da espécie.
O combate ao carrapato-estrela pode ser feito tanto no pasto
quanto nos animais infestados. Pastagens sujas (com mato alto,
vassouras, assa-peixe etc.) são meios ideais para a proliferação
dos carrapatos, pois os ovos encontram sombra e proteção. Uma
medida eficaz, que evita o uso de venenos, é roçar o pasto rente
ao solo uma vez por ano, na época das águas, de preferência com
roçadeira mecânica. Com o capim baixo, os ovos ficarão expostos
ao sol e não vingarão, quebrando-se o ciclo do parasita. Fora
esse procedimento, a aplicação de banhos carrapaticidas nos
cavalos pode resolver o problema. Em altas infestações, esse
banhos têm que ser dados de sete em sete dias, de abril a
outubro, combatendo-se as fases de larva e de ninfa. Muitos
fazendeiros iniciam a aplicação na fase adulta dos carrapatos,
quando eles se tornam mais visíveis. Porém, nessa fase eles são
mais resistentes ao veneno, e o tratamento não surte o efeito
desejado. A partir do segundo ou terceiro ano, feito o
tratamento de forma correta, os resultados começam a aparecer.
Pode-se então diminuir a freqüência dos banhos.
Febre maculosa
O carrapato-estrela é vetor de uma grave doença que ataca o ser
humano: a febre maculosa. Causada pela bactéria Rickettsia
rickettsii, mata mais de 80% das pessoas acometidas pelo mal
quando não tratadas a tempo. Pode ocorrer em todo o Sudeste do
Brasil, sendo que na região de Campinas, no interior paulista,
foi registrado o maior número de casos nos últimos anos.
A bactéria ataca as células que revestem os vasos sanguíneos do
sistema circulatório, ocasionando graves distúrbios
circulatórios no organismo, principalmente no cérebro. Passa
para o homem quando um carrapato infectado fica mais de quatro
horas fixado sobre a pele da pessoa. De seis a 12 dias depois,
começam a aparecer os sintomas. Primeiramente, uma febre alta
que persiste mesmo com o uso de medicamentos, dores musculares,
fadiga, dor de cabeça e enjôo. Depois de três dias de febre,
começam a aparecer pequenas manchas vermelhas, especialmente nas
mãos e nos pés, que se espalham pelo corpo com o passar do
tempo. Se o tratamento médico, que é feito à base de
antibióticos, não foi iniciado até esse momento, dificilmente o
doente irá se recuperar. Nesse caso, a morte pode ocorrer em
menos de uma semana após o surgimento dos primeiros sintomas.
Os sintomas da febre maculosa são confundidos com os de muitas
doenças como gripe forte, meningite, sarampo e leptospirose.
Portanto, para o correto diagnóstico, é importante que o
paciente informe ao médico que passou por uma área infestada por
carrapatos.
Como prevenir
Quando for caminhar por uma área infestada, borrife algum
inseticida na calça.
Como medida preventiva, coloque a boca da calça para dentro da
bota.
Sempre que caminhar em uma área contaminada, vasculhe todo o
corpo para retirada dos carrapatos fixados o mais rápido
possível.
Resposta baseada em consulta a Marcelo Bahia Labruna, professor
de doenças parasitárias da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da USP, São Paulo, SP
Alfredo Moro Morelli
redator do Barão em Foco